quinta-feira, 8 de abril de 2010

‘Por que as coisas ruins acontecem, se Deus é bom’.



Na terça, ainda havia esperança de encontrar pessoas com vida. Nesta quarta, o trabalho é muito mais difícil. Bombeiros, voluntários e parentes estão buscando apenas corpos.
Debaixo da lama, no meio de escombros, são muitas as histórias de vidas interrompidas nessa tragédia. Como a gente vê na reportagem de Sandra Moreyra.

Em cada rosto, uma dor profunda que parece não ter fim. Há 30 horas, Veridiano e Luis estão junto com os bombeiros no meio dos escombros do Morro dos Prazeres no Rio.

Os corpos do cunhado, do primo e de dois sobrinhos estão sob uma laje coberta por toneladas de barro e pedra.

No meio da lama e do lixo encontram o livro que sempre foi o apoio da família nas horas difíceis: ‘Por que as coisas ruins acontecem, se Deus é bom’.

Já não choram mais. Buscam forças na fé. “Se confortar com Deus. Fazer o quê?”.

Na terça, ainda havia esperança de encontrar pessoas com vida no meio dos escombros. Nesta quarta, o trabalho dos bombeiros, dos voluntários e dos parentes é muito mais difícil. Eles estão buscando apenas corpos.

O terreno ameaça desabar novamente. O risco ainda é grande. Idalina chora em busca dos irmãos: Cidinho e Osmar.

Ivonete e Dulcinéia choram por Imaculada Ribeiro, tia, amiga, quase mãe delas. Imaculada, 36 anos, era babá, veio de Minas para o Rio de Janeiro. Buscava uma vida melhor. Morreu com os filhos.

“Ela estava pagando a casa ainda, uma pessoa guerreira, uma pessoa doce, uma pessoa amável, um coração de mãe”, disse Dulcinéia.

No Morro do Barroso, em Niterói, Marta liderou os vizinhos e parentes de três famílias. Não dorme desde segunda-feira. Família e amigos trabalham sozinhos numa tentativa desesperada de resgate com pás, machados, cordas, com as mãos.

“Temos que fazer, são vidas. Há esperança”, afirmou a dona de casa Marta Pereira.

Jaqueline se agarra na esperança de encontrar o filho Anderson, 13 anos, sob um mundo de terra, lama e árvore retorcidas. “São dois dias nessa angústia”, ela chora.

De repente, alguém acha que ouviu um gemido. A esperança dura apenas alguns instantes. O trabalho vai continuar por muitas horas mais. Misturada com a tristeza e a desolação, a chuva volta a cair.

Somente a Deus adorarás e só e Ele servirás!